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domingo, 20 de janeiro de 2013

Fotobiografia traz contradições e mal-entendidos da vida de Cartola

Minha vida é como um filme de mocinho. Acabei vencendo quase no final." Livro traz CD com gravação do último show de Cartola Assim Cartola (1908-1980) resumia sua atribulada trajetória, na qual o amplo reconhecimento artístico e o relativo sossego financeiro só viriam a partir dos 65 anos (sete antes de sua morte), quando conseguiu gravar o primeiro de seus quatro discos. Divulgação Retrato do cantor e compositor Cartola incluído no livro O roteiro deste "filme de mocinho", incluindo imagens de alguns momentos simbólicos, está registrado em "Divino Cartola - Uma Vida em Verde e Rosa", fotobiografia escrita por Denilson Monteiro, que está sendo lançada pela Casa da Palavra. O livro, em edição bilíngue (português-francês) graças ao patrocínio de empresa francesa, traz um CD com o último show registrado do mangueirense, no penúltimo dia de 1978, em São Paulo. Mostra um personagem marcado por contradições e mal-entendidos, desde o nascimento: Agenor foi registrado erroneamente como Angenor -e só descobriria isso aos 56 anos, passando a adotar o registro oficial. Seu nome artístico também é fruto de um engano: o chapéu-coco que comprou para proteger o cabelo dos respingos de cimento, quando trabalhou como pedreiro, aos 15 anos, foi erroneamente chamado pelos colegas de obra de cartola, e o apelido pegou. Elegante no trato e no visual, dono de "delicadeza visceral", como escreveu Carlos Drummond de Andrade em texto reproduzido no livro, Cartola foi mulherengo, bom de copo e de confusões, principalmente na juventude. "Eu conhecia a figura daquele senhor elegante, de postura reta, que você ficava contemplando, e descobri esse jeito mais malandro dele no início da vida, o que me surpreendeu", diz o autor. Não por acaso, quando Angenor perdeu a mãe, aos 17 anos, e saiu de casa brigado com o pai, este deixou um recado para quando o filho voltasse à Mangueira: "Vou-me embora deste morro, mas deixo aqui um Oliveira para fazer a vergonha da família." Divulgação O cantor quando menino O vaticínio não se confirmaria, mas Cartola penaria um bocado antes de se tornar o orgulho não apenas da família, mas da Mangueira, a escola de samba que ajudou a fundar (e que nomeou). MANUSCRITOS Além de fotos de diversos momentos da vida do artista e dos ambientes que ele frequentava --a Mangueira e seus sambistas do início do século passado, suas casas, seus amigos e amores--, o livro reproduz manuscritos. Neles, é possível notar não apenas a cuidadosa caligrafia, mas modificações feitas em clássicos como "Disfarça e Chora" --cujos últimos versos originalmente diziam "E seu pranto / Oh triste senhora / É molhar no deserto" em vez de "vai molhar o deserto", como acabou registrado. Monteiro diz ter aproveitado a pesquisa para "acabar com lendas", como a de que o clássico "O Mundo É um Moinho" teria sido feito para uma filha que saiu de casa --foi inspirada por um amigo abandonado por seu amor. CANÇÕES DE ERASMO Monteiro concentra suas atenções em um livro com as letras de Erasmo Carlos, feito em parceria com o próprio -uma espécie de biografia das canções do Tremendão. Também está envolvido em dois documentários sobre figuras cuja biografia escreveu: Carlos Imperial (1935-1992) e Ronaldo Bôscoli (1928-1994). DIVINO CARTOLA - UMA VIDA EM VERDE E ROSA AUTOR Denilson Monteiro EDITORA Casa da Palavra QUANTO R$ 80 (208 págs.)