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domingo, 7 de abril de 2013

O NOME É KONG... KING KONG: FILME CLÁSSICO FAZ 80 ANOS

No princípio, havia King Kong. Muito antes das atuais sagas vampíricas ou de ficção científica e dos filmes turbinados sobre super-heróis, a tragédia épica de um gorilão apaixonado por mulher loura de 1,60m antecipou a era dos blockbusters. Os tempos eram outros, claro: frequentar salas de exibição ainda era um “programa de gala” e os efeitos especiais eram bastante limitados. Mas o “cinema-pipoca” se consolidou ali: fascinados, adultos e crianças pagaram para ver a excepcional aventura estrelada por Fay Wray (1907-2004) e pelo icônico macaco que vivia em uma ilha distante e misteriosa, também habitada por dinossauros e por uma tribo selvagem que adorava o gigante como a um deus. O longa-metragem (que teve pré-estreia em Nova York, no dia 2 de março de 1933, mas que só foi oficialmente lançado em 7 de abril daquele ano) acabou entrando para o folclore ocidental e, claro, gerou muitas imitações e alguns remakes. O último deles (dirigido por Peter Jackson) tem muitas qualidades, mas o King Kong original é daqueles projetos difíceis de serem superados... Gigante como seu protagonista, o longa projeta uma sombra enorme e permanece uma inspiração para cinéfilos e cineastas. Veja fotos do clássico e dos demais filmes do gorila PRODUTO DA CRISE Sem ignorar as indiscutíveis virtudes da produção, a verdade é que havia um público faminto à espera de um filme como King Kong naquele tempo. Os EUA se achavam no ápice da Grande Depressão. Milhares de norte-americanos lutavam para sobreviver nas ruas do país, que mergulhara em uma crise sem precedentes. No escurinho do cinema, a salvo das vicissitudes e filas de emprego lá fora, o público se entregou de corpo e alma àquela fantasia exótica e divertida. Mas King Kong não teria se tornado um mito se as plateias não tivessem se identificado com o personagem. Na literatura e no cinema, macacos já haviam sido utilizados como espelhos da agressividade humana (e um bom exemplo é o conto Os Assassinatos da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, coestrelado por um orangotango assassino). Mas King Kong era diferente: acuado no alto do edifício Empire State e fustigado pelas metralhadoras dos biplanos – então, o maior platô da selva de pedra novaiorquina –, ele era um outsider ameaçando a preservação da ordem, um selvagem que a civilização queria eliminar. Talvez por isso, não houve quem não chorasse por ele na apoteótica cena final. A CRIAÇÃO DO MITO Considerando a profusão de absurdos e exageros da trama, é curioso que o drama de King Kong tenha saído da cachola de um documentarista, via de regra, pautado pela razão e pelo pragmatismo: Merian C. Cooper, a um só tempo diretor de cinema, aventureiro e produtor. Cooper (que lembrava muito um dos principais personagens de King Kong, Denham, interpretado por Robert Armstrong) firmara uma parceria com o cameraman Ernest B. Schoedsack nos anos 1920. Juntos, eles rodaram Grass – A Nation Battle for Life (1925) e Chang – A Drama of the Wilderness (1927), um registro de viagem pela Pérsia e um misto de documentário e thriller (respectivamente). Foi Cooper que teve a ideia de produzir um filme sobre um gorila gigantesco (inicialmente, este seria “representado” por um macaco de verdade, posteriormente "ampliado" por efeitos fotográficos). O também cineasta e produtor David O. Selznick adorou o projeto e, mais tarde, foi o produtor executivo de King Kong. Cativado pela inventividade de Cooper, Selznick o contratou como consultor de projetos da RKO em 1931. Naquele tempo, o estúdio preparava um documentário sobre a vida pré-histórica, Creation, que teria efeitos especiais revolucionários (para a época) elaborados por um “expert” na matéria, Willis O`Brien. PARECIA GIGANTE, MAS NÃO ERA Um mestre na técnica do stop-motion (animação quadro a quadro), O`Brien conferia “vida” a miniaturas articuladas de dinossauros por meio de um recurso elementar: cada variação de movimento dos bonecos era registrada em um frame de filme. Isto se repetia até que toda a sequência estivesse completa, em um processo demorado e minucioso. O resultado era excepcional: na tela, os monstros agitavam suas caudas, corriam e até lutavam entre si. A coisa era feita de forma tão artesanal que O`Brien trabalhava dentro de uma garagem, com seus bonecos posicionados sobre uma plataforma e à altura da câmera. Ao assistir a alguns copiões de Creation, Cooper esqueceu a ideia de utilizar um gorila de verdade no filme e se rendeu aos efeitos visuais. O King Kong do filme de 1933, portanto, foi "interpretado" por uma miniatura articulada, assim como os dinossauros e outras criaturas antediluvianas que faziam figuração na história. E o resultado foi tão bom que, durante anos, muita gente pensou que um enorme robô (controlado por homens aboletados em suas entranhas) tivesse sido construído para o filme. De fato, algo parecido chegou a ser feito – um colossal “antebraço” mecânico foi utilizado em cenas que exigiam uma "interação" mais direta entre Kong e o elenco humano. Mas, na maior parte do tempo, o que vemos é apenas a miniatura do gorila em ação, animada por stop-motion. NA ILHA DA CAVEIRA Outras pessoas contribuíram para o sucesso de King Kong: muitos dos méritos dramáticos da produção, por exemplo, podem ser creditados ao escritor de contos de mistério Edgar Wallace, que deu uma “polida” geral no conceito básico da trama. Cooper teve a ideia de um gorila gigante aterrorizando Nova York, mas não pensou em um background muito elaborado para este clímax. Aos poucos, foram surgindo ideias que, hoje, são indissociáveis do mito de King Kong: a chegada da equipe de filmagens à Ilha da Caveira, a descoberta do muro que isola a tribo do primata colossal e, finalmente, o envolvimento “sentimental” da fera com a bela. King Kong evoluiu, assim, de um espetáculo visual para uma releitura contemporânea dos contos de fadas, o que é explicitamente pontuado nos diálogos: "Não foram os aviões", diz Denham, ao assistir à derrocada final de Kong. "Foi a bela – a bela é que matou a fera." O protagonista foi abatido nas cenas finais, mas isto não tornou sua “espécie” extinta. Kong reencarnou várias vezes no telão – seja por meio de remakes “oficiais”, seja na forma das inevitáveis continuações e imitações. O próprio Cooper produziu O Filho de Kong (também de 1933), filme dirigido por seu parceiro, Schoedsack, e lançado a toque de caixa pela RKO. Desta vez, Carl Denham voltava à Ilha da Caveira para capturar outro primata superdesenvolvido – este, um espécime albino! Depois veio O Poderoso Joe (1949), mais um esforço da dupla Cooper/Schoedsack. E, nos anos 1960, as bizarras variações japonesas sobre o tema, que têm lá o seu séquito de admiradores, mas que são indiscutivelmente esquisitonas: tanto em King Kong Versus Godzilla (1962) como em A Fuga de King Kong (1967), o macaco foi vivido por um ator fantasiado. MACACO ROBÓTICO Já nos anos 1970, o produtor Dino De Laurentiis recorreu ao maquiador Rick Baker para realizar uma versão colorida e mais juvenil da história. O remake, de 1976, foi estrelado por Jessica Lange (substituindo Fay Wray como o interesse romântico do gorila) e levou mais tiros que o próprio King Kong naquela célebre cena no Empire State. A crítica torceu o nariz para as “invenções de moda” do roteiro – principalmente os comentários feministas e meio ridículos (a certo ponto, a mocinha critica o autoritarismo do gorila e o chama de “macaco chauvinista”!) –, mas o projeto deu para o gasto. Para promover o filme, De Laurentiis foi a programas de TV dos EUA e espalhou a mentira de que o primata do novo filme fora interpretado por um gigantesco robô hidráulico. Na melhor das hipóteses, esta era uma versão exagerada dos fatos: um King Kong robô realmente foi construído para o filme (depois, o boneco “excursionou” pelo mundo e acabou exibido no Playcenter, famoso parque de diversões de São Paulo/SP). Mas sua "atuação" se resumia a poucos takes de multidão. Quem fazia as vezes de macaco, mesmo, era o próprio maquiador Rick Baker, caracterizado como símio. É melhor nem comentar a constrangedora sequência do remake, King Kong Lives! (1986), talvez o pior filme de macacos já feito. Basta dizer que, após sobreviver a uma queda do World Trade Center, King Kong descobre o amor e cai nos braços de uma gorila igualmente gigantesca. Um horror. CAPTURA DE MOVIMENTOS Embora algumas dessas produções sejam de qualidade duvidosa, a intenção de atualizar a trama e apresentá-la às novas gerações é válida. King Kong conta um tipo de história de apelo universal e atemporal – e, se houver roteiristas e cineastas competentes envolvidos, não há porque não reeditá-la e adaptá-la às plateias contemporâneas, reafirmando a força do mito. Embora tenha sido massacrada por muitos críticos (e por boa parte do público, sabe-se Deus por que), a versão de Peter Jackson (respeitosa com o original ao ponto da reverência) é um desses casos. Agora produto da tecnologia de captura de movimentos – a bola da vez no segmento dos efeitos visuais –, King Kong voltou ao telão em uma aventura tão grandiosa quanto paradoxalmente delicada e sutil. Naomi Watts foi a mocinha do remake de 2005 e, desta vez, foram tornados óbvios a cumplicidade e o afeto mútuo entre a protagonista e o gorila gigante (para ser justo, a refilmagem dos anos 1970 foi pioneira nesta abordagem, ainda que o resultado tenha sido piegas e meio forçado). No original, Fay Wray se limitava a berrar de medo cada vez que punha os olhos no macaco; no filme de Jackson, a heroína parece sinceramente preferir a companhia do “monstro” à de seus contrapartes humanos patéticos.

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